Briga de leões

Luís Cláudio Duda comenta disputa pelo título mundial entre Uri Valadão e Guilherme Tâmega


O circuito mundial está tão bom que não dá para marcar bobeira. Escrevi este texto há muito pouco tempo e, depois da vitória do Pelé do bodyboarding Guilherme Tâmega em Portugal, ficando a 80 pontos da liderança, o que posso dizer?!

O monstro do esporte está de volta? Não, não está de volta... Ele nunca saiu! A mídia americana e australiana é que tentam, coitados, passar a imagem de que ele não existe mais! Todo ano é a mesma coisa, ele surfa do mesmo jeito de quando tinha 16 anos, só que com um ?pouco? mais de experiência.

Guilherme é movido a competição, nem no videogame aceita perder. Uma vez ganhei uma partida de Fifa Soccer antes de dormir e, antes de ir surfar, ele já estava com o videogame ligado e esperando para uma "negra". Talvez por conhecer o Psique-Z (bom nome para um filme, não?) desse maluco, acho que Uri corre um grande risco na sua busca pelo seu título, também muito merecido.

Mas, será o ano de Uri Valadão? Como tenho o prazer de acompanhar esse baiano viciado em computador desde seu primeiro dia em Oahu, já que ele e Guilherme sempre ficavam hospedados em minha casa aqui no Hawaii, pude acompanhar sua dedicação ao esporte e, às vezes (até demais), às competições.

Uri é uma máquina de competir, assim como seu ídolo, mestre, professor e amigo GTâmega, que passou tudo mastigado e o moleque aprendeu, potencializou e agora joga duro contra seu próprio mestre / ídolo.

Além de excelente pessoa, Uri é um cara de personalidade por agüentar a pressão da galera do Brasil. Muitos o chamavam de merrequeiro, marcas criavam filmes sobre o esporte, "criavam ídolos? para seu próprios interesses financeiros, falando que marca tal chupinhava o esporte, aparecia em campeonatos de bodyboarding como o de Rio das Ostras, que não tem ondas boas, isso é fato, mas o dinheiro é bom e atleta profissional tem que ir atrás de premiações - onda boa ele pega no free surf, viagens, etc. Profissional tem de ganhar dinheiro e a premiação lá é muito boa..
 
Hoje, muitas dessas figuras que foram mais uns que não fizeram nada pelo esporte, muitos talvez nem surfam mais, já abandonaram o esporte e deles só ficou esse exemplo ruim, enquanto Uri está aí, levando a bandeira, sem nunca ter participado desse tipo de panela, fazendo e construindo sua carreira de forma sólida, com resultados e sessões de free surf em mares que muitos desses antigos pseudo ídolos big riders nem cairiam.

Entendo que em alguns casos a própria desorganização do esporte faz com que empresas antes 100% bodyboarding venham a perder gradativamente essa porcentagem até virar 100% surf.

Temos uma entidade que mais uma vez pergunto "Onde estão as eleições?". Respeito muito o trabalho do Chico, é um cara do bem, mas por que não jogamos limpo, por que não tem uma eleição? Sei que foi formada uma chapa há um tempo e, com uma jogada de estatuto, tiraram a chapa da briga! Afinal, atletas, vocês não são funcionários deles, eles é quem são seus funcionários.

Infelizmente não temos e não tenho outro lugar para poder falar abertamente sobre isso. O Fórum está aí, galera, vamos cobrar, se unir, pedir por uma troca de guarda ou a continuação dessa de forma mais clara e justa.

Provavelmente teremos uma etapa na Bahia do circuito mundial, é o que está no calendário! Convoco uma reunião para decidir chapas! Mas, quem sou eu para convocar reunião? Sou, assim como você que lê este artigo, um cara que é bodyboarder e vai pegar suas ondas, compra prancha, revista, roupa e tem o direito de ver algum desse dinheiro voltar para a mão de quem merece, que são os atletas, que são quem puxa o limite do esporte, nos fazendo comprar aquela prancha com canaletas tal, fundo tal, para fazer aquela manobra melhor, evoluir e se divertir. Embarca nessa? Vamos fazer um Diretas Já no nosso esporte. Revolução com evolução!

Acho que finalmente está rolando uma valorização dos atletas nacionais, porque é muito fácil falar que país tal tem estilo, país tal tem não sei o quê ...Quero ver títulos!!

Na hora que aperta o cinto, quem segura a bronca?! Não temos onda, equipamentos, mídia, dinheiro e organização para mostrar as ondas sinistras que nossos atletas pegam aqui. Muito criticaram de onda, de embalo, sem nunca ter visto o que rola aqui no Hawaii em plena temporada.

Mas agora com o Youtube, dá para ver um pouco, bem pouco por enquanto, mas vai melhorar, já que me formei em um curso de edição e em breve, com meu equipamento, estarei postando vídeos com o que rola de melhor no bodyboard, além das fotos que já faço há um bom tempo e, junto com o Waves e meu blog, informo e entretenho a galera.

Aliás, um jabazinho que também sou filho de Deus! Visite Thebloghawaii.blogspot.com . Caso tenham perdido a temporada que passou, é so ir nos arquivos. Tem atualização diária desde outubro do ano passado.

Saindo da sessão jabá, fico pensando o que falta escrever... E falta muito! Mais precisamente seis etapas em ondas de beach break, point break e reef break, ondas pesadas, ondas gordas este ano, na minha humilde opinião. Digo humilde porque escrevo em meu nome e é a minha opinião, deixo isso bem claro, tenho este espaço no Waves e uso com responsabilidade, já que sei que muitos praticantes, simpatizantes desse que é o esporte que mais deu títulos na história do nosso país até hoje .

Tenho de ver como os bodyboarders brazucas vêm para a ilha e defendem a nossa bandeira. Vai ser uma briga de cachorro grande; Uri tem muitas chances de ser campeão este ano, mas Paulo, depois da vitória em Pipe, sentiu o gostinho e não vai deixar barato; Luiz, Maguinho são um perigo mortal em qualquer condição! Uma pena ver caras como Erisberto e Lucas Nogueira sem condições de correr todas as etapas. Podíamos facilmente ter pelo menos uns 10 entre os top 16!

GTâmega é um caso à parte. O cara deu um break, se preparou, voltou em Pipe, surfou como um doido, como sempre, sem pensar em conseqüências, o que vinha ele destruía. Na Austrália não vieram as ondas e no Brasil perdeu na estréia. Acho essa etapa no Brasil a mais difícil em termos técnicos; o mar estava pequeno e a galera tira leite condensado de pedra! Fiquei de cara com a atuação da galera!

Quanto às meninas, fico muito feliz de ver duas futuras campeãs do mundo em potencial botando as mangas de fora e as cartas na mesa. Jéssica e Isabela (que não veio este ano, mas no próximo se não vier mando buscar) são nossas prováveis futuras campeãs do mundo! Surfam muito e têm mais do que atitude, têm vontade de serem campeãs.

Agora, a briga está entre os top 5, todos muitos próximos e este ano, com certeza, pelo menos para mim, é o melhor circuito em termos de emoção. Está todo mundo ali, na real tem pelo menos quatro atletas com condições reais de título.

Leio sempre o Fórum dos textos que escrevo no Waves e fico triste de ainda haver atletas que acham que o esporte está animal, que quem gosta de passado é museu.

Provavelmente devem ter contratos milionários com seus patrocinadores e circuitos brasileiros como os do passado, com área de imprensa, área vip, boa premiação e organização!

Aliás, devem ter várias etapas de circuito brasileiro para competir, dinheiro para viajar e fazer sessões de free surf como fazia a galera ?das antigas? - Paulo Esteves, Xandinho e Kiko Hebert.

Ter todas essas etapas no circuito mundial não quer dizer que o esporte esteja bem, quer dizer que demos um passo para começar a melhorar.

Dos brasileiros no tour, quantos têm um patrocínio? Alguém que dê um salário digno de se fazer um pé-de-meia, quantos? Isso é ter o esporte bom? Eu sei a situação a fundo de cada um deles, e posso dizer que está longe, muito longe da ideal!

Foram pensamentos e atitudes assim que fizeram com que perdêssemos a oportunidade de realmente ter um esporte estruturado.

Um bando de mané veio do nada, sem experiência em nada, assumiu e depois sumiu, todos incapacitados de assumir a mediocridade. Destruíram um esporte em franca ascensão!

Mas, isso é passado? Não, isso pode virar futuro, caso não acordemos e vejamos que estamos pisando em ovos no momento, estamos renascendo e, se não tivermos capacidade de vermos onde erramos, não conseguiremos dar o passo de novo, tornando a ficar à beira da extinção!

Acorda, galera! Nosso esporte está muito mais para Racionais do que para Bob Marley! Estamos agora com uma revista digital, uma impressa, outras surgindo, fotógrafos especializados com conhecimento sobre o esporte e interesse.

Tony D'Andrea, Camarão, Mauricio Drumm e outros que esqueço o nome, mas é so pra ver que tem gente nova tentando entrar e fazer diferença.

Temos hoje sites direcionados ao esporte, pessoas qualificadas para falar do bodyboarding. Mas, mesmo assim, isso não torna o esporte melhor, afinal já tivemos tudo isso antes e perdemos.

Estamos retomando o crescimento, sim, mas desta vez vamos ser mais adultos e profissionais, chega de ego em um esporte ainda tão pequeno! Temos verdadeiros heróis, temos os títulos, não precisamos fabricar ídolos em nosso esporte! Somos "a potência nele".

Vamos acreditar em nosso esporte - em nossos atletas nem precisa -, estamos bem representados desde o começo dele e pelo visto dominaremos por um bom tempo. E lembre-se: revolução com evolução e educação.

Fonte: Thebloghawaii.blogspot.com
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