Explorando Java
Bodyboarder Marcelo Gomes relata experiência nas ondas de Java, Indonésia
Em todos os anos que exploro as ilhas da Indonésia, focando boa parte das minhas temporadas na Sumatra e Sumbawa, sempre ouvi comentários e vi fotos de algumas ondas em Java, fora da região da Grajagan. Já tinha ouvido relatos de alguns amigos australianos que afirmavam ter surfado ondas pesadas e com pouco crowd, o que começou a despertar minha curiosidade de explorar melhor aquela região.
Java é uma das maiores ilhas do arquipélago, cheia de reefs quebrando por toda a sua costa, e há algum tempo vem sendo explorada por alguns bodyboarders profissionais e freesurfers que conheço. Eles mesmos já haviam publicados fotos de algumas ondas, mas sem divulgarem o local exato.
Após mapear a região, ver o aeroporto que iria descer e toda a parte de movimentação da viagem, peguei um voo para Bali, onde resolvi algumas pendências e, em seguida, já parti para Java.
Desembarquei em um pequeno aeroporto, que lembrava o de Bima, em Sumbawa, onde peguei uma van que dirigiu quatro horas até o "local".
Chegando lá, meio cansado da viagem de horas no carro, ocasionada pela má condição das estradas, fui logo preparar o equipamento para dar aquela caída de fim de tarde, mas, para minha decepção, chegando em frente ao reef da referida onda que eu via em fotos, ele estava irreconhecível, com no máximo 2 pés, formação errada e vento forte. Retornei para o meu bangalô já trabalhando o psicológico para passar longos dias pescando e curtindo as praias com minha namorada. Quem quer explorar ondas onde a mídia ainda não divulgou com intensidade, corre esses riscos mesmo. Acaba apostando as fichas, mas nem sempre ganha.
Neste mesmo dia, dormi cedo, na esperança de o mar reagir. Acordei às 5 horas e fui conferir, mas estava terral e minúsculo. Dei uma queda só para remar e saí da água bem frustrado.
Mais dois dias se passaram, foi quando vi alguns bodyboarders profissionais chegando, já que essa região é considerada um dos nichos do bodyboarding na Indonésia, e 70% do crowd é composto por eles, tudo devido à formação da onda, um buraco na maré seca, ideal para a prática do esporte. À noite, descolei internet e vi pela previsão que um forte swell encostaria na região. Vi também a chegada do skimboarder Brad Dowke, com sua equipe de filmagens, e do surfista indonésio Rizal Tanjung, o que me fez voltar a acreditar que a onda iria aparecer, caso contrário, todos eles não teriam vindo para a região.
Nos dois dias seguintes, o cenário mudou radicalmente. O mar subindo gradativamente, as direitas da baía entravam enviezadas com um drop seco e buraco, onde a placa do lip te jogava longe na rasa bancada. Nos dias de auge do swell, o crowd diminuiu bastante e todas as séries rodavam com spray baforando. Houve várias sessões que surfei com 4 ou 5 pessoas durante horas. Um dos melhores tubos que fiz, provavelmente um dos mais largos em todas as temporadas, foi assistido pelo skimboarder Brad Dowke. Ele me disse que seus videomakers tinham gravado na água. Estou negociando essas imagens em vídeo, já que, pra mim, foi o melhor que peguei até hoje na Indonésia - espero tê-las em breve.
Fiquei surpreso com a força dessas bancadas, que proporcionam ondas ideais para prática do esporte. Foi o meu presente de aniversário e o fechamento do 30º carimbo indonésio no passaporte.