A culpa é do problema
Enquanto as discussões sobre o avanço da maré em Ilhéus tomam conta das redes sociais, a Praia do Norte pede socorro
Muito se fala da “Praia do Norte de Ilhéus” nas redes sociais. Repercussão adquirida pelas boas condições de surfe durante o ano praticamente todo, além de ser celeiro de grandes atletas do nosso esporte.
Outras páginas de destaque são ocupadas, infelizmente, por tragédia como a que agora deve (ria) estar permeando a mente dos surfistas e populares locais. O avanço da maré e suas consequências não são novidades por aqui.
Basta agosto apontar no calendário e as incertezas sobre as consequências dessa questão pairam no ar. A única certeza é que algum prejuízo dela irá decorrer.
Atualmente estamos nos deparando com o acirramento de “discussões” em redes sociais sobre os mais diversos temas. Cada um tem uma opinião, sempre melhor que a do outro e que deve prevalecer. Dessa dualidade não escapou a destruição causada pelo avanço da maré.
Há quem coloque no ringue o "homem x natureza", com culpas para ambas as partes, e as torcidas apaixonadas defendem seu ponto de vista arduamente. Enquanto isso, na Praia do Norte, a maré avança e destrói mais um tanto de casas. Pessoas perdem o investimento de uma vida, seu lar, a desolação abate.
O problema se torna irrelevante, a “discussão” gira em torno de culpados, pouco importam as vítimas. Obviamente, achar o erro aponta para uma solução, além de que um diálogo saudável, com respeito, ouvindo quem estudou sobre o tema e, principalmente, as opiniões contrárias à sua, é construtivo.
Só que rede social não foi feita para isso e, enquanto importar mais provar que a pessoa que construiu sua casa em área “x” correu o risco da maré a invadir, esquecemos do problema central: o mar está avançando sobre nós, o que fazer? Quem pode ajudar?
Um outro fator importante sobre o (mau) uso das redes sociais para o “debate” é que terminamos desunindo a comunidade que deveria estar envolta na solução do problema em si, e não em “lacrar” com comentário cheio de “curtidas”.
Com a permanência dos gladiadores modernos no coliseu dos likes, a maré não deixa de avançar, os políticos não adotam medidas para contê-la, nenhum estudo detalhado sobre suas causas / efeitos e eventuais soluções é divulgado.
A lua e a variação da maré vão mudar, agosto vai terminar, as “discussões” nas redes sociais vão achar outro tema, aquele do momento, e, no próximo ano, iremos reavivar isso tudo de novo. Bateu uma saudade de Chico Science, que já dizia em 1996: o problema são problemas demais / se não correr atrás da maneira certa de solucionar.